sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Dia de todos os Santos: a morte e o cemitério!

Com o avançar da idade, começo a olhar para este dia com outros olhos. Para além de toda a vaidade e excentricidade que também caracterizam este dia, o dia de todos os Santos que antecede o dia dos fiéis defuntos, é dedicado a homenagear todos os que já partiram...

Há uns atrás, tinha eu 12 anos perdi a minha avó paterna. Uma avó querida que brindou a minha infância com uma doçura contagiante . Após um ano perdi o meu padrinho, uma pessoa muito especial. Convivi de perto a dor da minha madrinha e o conforto que lhe trazia nas visitas ao cemitério. Acompanhei-a sempre sem perguntas. Durante anos, não entendia a sua "obsessão " pelo cemitério, pelo embelezamento por vezes exagerado, pelo seu extremo cuidado e atenção. Simplesmente sabia que aquilo lhe fazia bem, lhe trazia paz ao seu coração tão atribulado e matava um pouco a saudade. Lá, ela sentia -se mais perto dele!

Já adulta, com 24 anos perco o meu avô paterno. Foi duro! Depois daquelas mortes que marcaram a minha pré adolescência, é a primeira vez que sofria uma morte "a sério"! Já não existiam paninhos quentes, a realidade é assim: as pessoas nascem e sabem que vão morrer. É a realidade nua e crua! É saber que a partir daquele momento a pessoa parte e só permanecerá na nossa memória e no nosso coração.

Em 2016, perco o meu avô materno. O meu pai de criação, o meu encarregado de educação. E aí com uma idade e vida diferentes, com uma experiência de vida muito maior, perco um pouco da minha vida. A pessoa que me criou, que me educou, que me acompanhou, partia... E aí sim, o cemitério começou a ser diferente para mim... Já não era visto como um lugar para mortos, mas sim como o local onde estavam os meus. As pessoas que fizeram parte da minha vida. Que me viram crescer e que ajudaram a crescer.

No final do ano passado perco o meu tio e primo numa tragédia. Um acidente leva pai e filho. É daquelas coincidências que não conseguimos perceber porque acontecem. É difícil aceitar.

Este ano, em Março sou confrontada com um cancro terminal do meu sogro. O acompanhamento, o apoio naquele caminhar para a morte foi doloroso. E ainda mais doloroso porque tráz à memória coisas antigas. 19 anos separaram as histórias do meu sogro e do meu padrinho, mas a dor é repetível e inconfundível. Simplesmente com um pensar diferente. 

Agora quando vou ao cemitério visitá-los, falo com eles, como fazia e faz a minha madrinha, porque lá estou mais perto deles. Porque só não estou com eles fisicamente!