domingo, 28 de novembro de 2021

Cuidador de primeira viagem

CUIDADOR DE PRIMEIRA VIAGEM "A vida dá muitas voltas!" Já dizia o meu avô... E nunca esta expressão fez tanto sentido!!! A minha avó tem 92 anos e obviamente requer cuidados. Cuidados estes que nestes últimos tempos têm sido prestados pela minha mãe! Eu auxílio no que posso e quando posso... Engraçada a vida não é??? Quando eu nasci, a minha mãe para poder trabalhar, entregou-me aos cuidados da minha avó. Foi ela que me educou, foi com ela que aprendi a andar, a falar, a comer de garfo e faca, a rezar... A minha mãe chegava do trabalho, cansada e basicamente era jantar e dormir. Hoje, os papéis inverteram-se... A minha mãe cuida de sua mãe, cuida não como filha, mas como mãe. Ser velho, (e vou usar a palavra velho sem conotação negativa) é ser criança novamente! E é assim que nos cai um bebé grande. Um bebé que fala, que sabe as coisas mas que não as consegue fazer sozinho. Um bebé que tem ciúmes da bisneta porque divide a atenção com o seu CUIDADOR, um bebé que precisa de mimo e carinho, que é necessário trocar a fralda e que precisa de sobretudo de afeto e amor. E é neste amor que já não é de primeira viagem, mas que é de um zelo tão grande como se fosse ter o bebé pela primeira vez nos braços. E agora é chegada a hora de devolver todos os cuidados que ela teve com a minha mãe e comigo. E é tão bom poder acolhê-la nos nossos braços e fazê-la sentir segura no seu novo habitat! Ela tem nos pregado uns sustos!! E o meu coração bate com mais força nesses momentos. E sinto o medo como sentia quando a Ana Rita chorava e eu não sabia o que fazer. Agora é igual ou talvez pior... É olhar para a minha avó e não saber o que fazer. E pegar no telemóvel e ligar para os filhos que cuidaram dela com a esperança que eles digam que "isso é normal", "isso é habitual"... E respira-se de alívio!!! Porque o medo de perder é enorme. O medo de não conseguir salvar é maior que todos os medos! Ser CUIDADOR de um idoso é um acto enorme de amor e generosidade. Mas ao mesmo tempo a maior obrigação que temos: cuidar de quem cuidou de nós. Cuidar dos nossos velhos é dar-lhes a dignidade e o respeito que a sua idade ordena. É limpar-lhes o rabo com o mesmo carinho que se limpa a um filho, é partir a carne como se corta a uma criança, é dar mão para não cair como ela me deu tantas vezes quando eu era criança. Fui mãe de primeira viagem. É assim que se diz quando se é mãe pela primeira vez não é? E agora sinto que sou CUIDADOR de primeira viagem. E é tudo novo, cheio de medos e inseguranças... Às vezes olho para a minha mãe e vejo bem o medo que sente se lhe acontecer alguma coisa... A vida é uma viagem... há medo no início... há medo de cuidar num início de vida. Há medo de cuidar num fim de vida. Mas existe uma coisa em comum: CUIDAR COM AMOR!! "Pois onde estiver o amor, ali estará também o nosso coração".

Tu decides o que fazer com a tua dor!

Tu decides o que fazer com a tua dor! Primeiramente vais chorar... vais gritar... vais sentir revolta... julgas que não vais aguentar... Choras todos os dias e a tua vida é em função da dor. Não queres sair, não queres ver ninguém e entregaste à dor como se não houvesse amanhã. Depois choras dia sim, dia não. Não porque não dói, mas começas a tentar habituar à dor. A revolta continua. Andas triste, deprimido, sem alegria de viver. Perguntas porquê? Questionas tudo e não obténs respostas. Vives numa névoa e não consegues encontrar o sol que ilumina a tua vida. A dor continua lá, mas começas a habituar à sua presença. Não porque não dói, mas porque sabes que vais viver sempre com ela. Chorar só faz doer mais. Enfiar a cabeça debaixo da almofada só ajuda a dor a aumentar e o vazio da tua vida é cada vez maior... Tempos depois tens duas opções: ou vives nessa sombra e nesse vazio ou começas a reagir. Pegas na dor, colocas debaixo do braço e levantas a cabeça. E acredita, vai doer muito! Vai doer tanto que as lágrimas mais parecem sangue a escorrer pela tua cara. Mas elas vão se dissipar com a tua força e coragem. Terás que repetir as vezes que forem necessárias: "EU SOU FORTE, EU CONSIGO!" E vais ver que consegues. Aos poucos vais erguendo as tuas costas e a tua cabeça e verás que o tempo ficará mais ensolarado. Esses raios de sol que te vão iluminar vão criar uma espécie de escudo de proteção contra tudo o que te quer deitar abaixo. E tem atenção que muitas vezes são os teus pensamentos o teu pior inimigo. Segue o caminho... confiante. De mãos dadas com a dor. Ela nunca se irá embora mas tu é que decides o que fazer com ela!

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Frustração

Frustração Quantas vezes nos sentimos impotentes e frustrados com algo que estamos motivados e cheios de esperança? Quantas vezes ficamos frustrados porque somos contrariados pelas expectativas que impomos em algo? Numa doença crónica vivemos este sentimento imensas vezes. Frustração por não conseguir ter uma vida normal, por não conseguir fazer coisas normais, por não obter resultados desejáveis, pelo futuro ser tão mas tão incerto e pela constante insatisfação do nosso dia a dia. Ainda na passada sexta feira fui ao controlo de sangue.  Há uns meses que estava bem... finalmente tinha um pouco de paz e ia fazer a colheita 5 em 5 semanas. Para mim era um alívio e uma alegria por finalmente ter conseguido o controlo do sangue. Mas esta alegria não durou muito, porque o resultado foi péssimo! Não estava nada bem e tenho que repetir a análise ainda esta semana. Lidar com isto, que para uns pode ser banal, e, sinceramente, às vezes para mim o é também, nem sempre é tão fácil e natural. Com este resultado caiu uma sombra negra de cansaço, de "outra vez?", de "porquê?"... mas sobretudo de medo! "Ai meu Deus e se tenho outra trombose?" Sentir que não posso fazer nada é terrível! Sentir que não tenho controlo é assustador. É desta frustração que hoje falo que, certamente, para vós também é familiar!

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Tens tempo para ti?

Há dias tive uma consulta. Daquelas consultas que a espera nos deixa ansiosas. Vocês sabem como é: viver com medo que a doença desperte. Não sei se foi por não ter os resultados que esperava, se naquele dia estava mais sensível, se foi do cansaço, mas tive um ataque de choro à beira da médica. Sabem quando tentamos estar sempre alegre, e por uma simples coisa, vamos abaixo??? Foi mais ou menos assim... A minha médica é magnífica e com um coração bom. Ouviu-me ficando surpreendida com a minha reação visto que me conhece sempre bem disposta. - a última e única vez que a vi assim foi quando lhe contei que tinha Lúpus!! Eu não conseguia conter as lágrimas, a exaustão, o cansaço deste caminho que tem sido tão difícil. Por muito que mostre que supero tudo, e que de facto esta minha forma de encarar a situação me ajuda imenso, nem sempre sou forte. E nem tenho que ser. Ignorar as opiniões e comentários, disfarçar a dor e mau humor, aguentar bem disposta todas as transformações e limitações é dose. Não me admiro nada quando me dizem que ficaram deprimidas após um diagnóstico!!!! Mas eu chorei... lavei a minha alma à pessoa que me conhece tão bem enquanto doente. E no final disse-me: "sabe o que precisa? De tempo para si!" Eu não respondi... Ainda hoje essas palavras estão presentes no meu pensamento. Porque tenho que ser mãe, esposa, doente, dona de casa, empresária, empreendedora, amiga... Tenho que ser tudo. E isso absorve-me tanto que não consigo ter tempo para ser a Elsa! E a Elsa é isso tudo. Mas falta tempo... tempo para me cuidar! E tu? Tens tempo para ti?

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Acredita em ti!

Em muitas das situações da minha vida precisei da aceitação dos outros, da sua aprovação, fazendo notar todas as minhas inseguranças. Quando se demonstra insegurança, os outros "comem nos as papas na cabeça", já diziam os mais velhos. E essa é a nossa maior fraqueza. Calei-me muitas vezes, abdiquei de muitas coisas em prol dos outros, fui muitas vezes submissa à vontade do outro, escondia as minhas vontades, tudo porque sempre coloquei o outro num pedestal acima de mim. Por insegurança e por não acreditar em mim. Esta fraqueza que eu odiava e tentava esconder através do humor, foi-se embora quando fiquei doente. No meu momento de maior fragilidade, vi com quem podia contar e defini prioridades. O resto... É resto... E o que é resto não presta. Acreditar em mim, ter auto estima e ser uma mulher segura, não me torna uma pessoa arrogante e altiva, de todo! Faz-me sentir igual, de quem olha em frente, olhos nos olhos, sem medos. Porque eu não sou melhor do que ninguém, mas também ninguém é melhor que eu. Acredita em ti, no teu poder e verás que ninguém terá coragem de te colocar na lama!

terça-feira, 27 de julho de 2021

Despida de medos e inseguranças!

A vida ensinou-me, ou melhor,  tem-me ensinado que tudo acontece por um motivo, que tudo nos ensina e que existe sempre um lado bom! A insegurança pelo meu corpo começou desde cedo. Para me "castigar", passei por uma Síndrome de cushing que me rasgou a pele e me marcou para sempre. Para ajudar à festa, o aumento de peso e a Síndrome anti fosfolípidica mudaram o meu aspeto. Saber lidar com todas estas mudanças não é fácil. E expô-las ainda é mais difícil! Esta exposição pode tornar-nos mais frágeis e inseguros ou então, o contrário: mais fortes que um rochedo. Acredito que seja este o meu propósito: com o meu testemunho ajudar pessoas que tenham os mesmos medos, receios, problemas... talvez seja a minha missão. Ter Lúpus é ter dor diária, ver o seu corpo a mudar, a sua vida a mudar e mesmo assim aguentar firme com cabeça erguida e de sorriso no rosto. Somos pessoas do caraças 💪 não acham? Mostrar-vos assim despida de medos, fantasmas e de inseguranças que vos ajude a aceitar a realidade e aproveitar o lado bom da vida: o amor, a família, os amigos. Estes sim são o nosso porto seguro, que não nos largam. E quanto aos julgamentos, eu tenho as costas largas. Ah, e existe um botão que diz: não seguir!

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Finalista

E chegou ao fim esta etapa... E eu nem acredito que esta pipoca já vai para o 1°ano!!! Ainda há dias estava na minha barriga😃 Sou feliz se ela estiver feliz e hoje os olhos delas mostravam a alegria e a ânsia do futuro. Do amanhã. Do depois! É tão bom ter metas e objetivos. Um foi cumprido! Amanhã outro será traçado. E a vida é assim... E agora venham as merecidas férias e a pergunta diária: "é amanhã que vamos para o hotel??"😃😃😝

terça-feira, 15 de junho de 2021

Memórias!

 Há 5 anos estava internada, cheia de dores e sem saber o que tinha. Os dias eram longos e tristes. As lágrimas eram a minha companhia e a incerteza apertava o meu coração. 

 Recebia diariamente fotos da minha filha. Era nessas fotografias que encontrava a esperança e a força para aguentar aquele pesadelo. Foi duro e ainda hoje tenho essa cicatriz no meu coração. 

 O tempo não cura tudo e o que eu perdi nunca mais vou recuperar. Naquele momento eu questionei: "que mal fiz eu para merecer isto!". A injustiça e a revolta que sentia levaram-me qu


ase aí desespero. Tinha medo que ela não me reconhecesse. E isso dava cabo de mim! 

A minha mãe colocava uma fotografia minha a beira dela e estava constantemente a falar de mim. Incrível como ainda hoje ela adora aquela foto!!! 

 Existem feridas que ficarão para sempre, mas hoje sinto-me em paz. Mas cada vez que me lembro, as lágrimas percorrem o meu rosto e a memória leva-me à cama do hospital... 


 P.S. a Ana Rita desde pequena que faz pose para a foto. O estilo nasceu com ela 😁😁😁 

terça-feira, 1 de junho de 2021

Livre...

 Finalmente estou livre da cortisona! Tanto desejei este dia. Tanto sonhei!!! A minha vida andou à volta deste comprimido que me fez sofrer, mas que ao mesmo tempo salvou-me a vida. É um misto de sentimentos! Porém, não consigo esquecer que o mais custou ouvir não foi "tem Lúpus", mas sim "terá que tomar umas doses altas de cortisona"!

Quem conhece esta medicação sabe que altera a nossa fisionomia. Eu tinha essa noção. Mas rezei todos os dias para não se notar muito. Talvez as rezas não foram suficientes, ou então tinha mesmo que ser assim... tinha que passar por isto para perceber outras coisas. Para perceber, principalmente, que a nossa essência é o que importa. O corpo é só um corpo. É matéria. E que a aparência não importa!

A aparência não importa??? É bonito escrever isto e até dizer. E sei que não é o mais importante, mas olhar ao espelho e gostar do que vemos é meio caminho para o nosso bem estar. E isto custou-me muito... E ainda custa! Estou marcada no meu corpo para a vida toda. Talvez porque preciso de me lembrar desta luta. E talvez um dia terei mais respostas. Hoje, só sei que estou livre. 

Este querer livrar-me da cortisona era tão ansioso que aquando do desmame tive uma crise de choro. De alegria, de medo... E foi bem mais difícil que o que pensei!

Já devia se saber que o mundo cor de rosa não existe e nestas doenças é que não existe mesmo!!! A ressaca, as dores, os tremores, a fadiga encheram os meus dias de energia negativa. 

Mas o que é isto??? Deixar a cortisona e ter dores? E o inchaço? Estou igual... 

Não é como sonhei. É duro e é complicado. O corpo pode demorar tanto tempo a voltar ao normal (mas que normal?) como o tempo que durou o tratamento. Se é que algum dia vai voltar!!!

Há 5 anos que travo uma luta com a doença, com a medicação e com a balança. Se aceito??? Claro que sim.  Aliás já aceitei. Se queres mudar? Claro que sim. Se fazes por isso? Sim, todos os dias! Se vai adiantar alguma coisa? Não sei. Se deixei de ser doente? Não... só tomo um comprimido a menos! Quase nada mudou!



terça-feira, 25 de maio de 2021

Aceita que dói menos!

 Ontem tive consulta com a minha médica. Esta médica é como se fosse um anjo que me surgiu para apaziguar as dores e a dificuldade em viver com este lobo.

Ela dizia que foi a minha forma de encarar o problema que fez melhorar a minha condição. Já sabemos que o processo de aceitação é difícil mas primordial para a nossa recuperação.

Eu agradeci o elogio e expliquei que, efetivamente sabia que esta forma de ver a vida e de aceitar com os pés no chão, bem consciente da realidade me fez libertar dos fantasmas e pensamentos maus que pairavam na minha cabeça e, que, ainda hoje, por vezes acontece. E, não tem problema nenhum se acontecer.

Nem sempre é fácil. E nem sempre conseguimos estar à altura das exigências do dia a dia. Saber que estamos limitados é um murro no estômago. O medo faz parte da nossa vida. Levar com isto todos os dias nas nossas costas torna-se num fardo muito grande e não é para todos.

Sabemos que existem pessoas que não suportam e não aguentam e não aceitam...

Nestes cinco anos conheci muitas pessoas e este blogue fez-me conhecer imensas pessoas com pensamentos muito diferentes. Umas optimistas, outras negativas, outras cheias de esperança e outras que nem por isso. Não somos todos iguais. Tento ajudar no que posso, dando uma palavra amiga... cada uma vê nestas peripécias da vida uma missão. E acho que a minha passa por ajudar no processo de aceitação.

Já conhecem esta expressão "aceita que dói menos"?

Pois é, aceitando dói menos. Mas dói menos, mesmo!


terça-feira, 18 de maio de 2021

O apoio dos familiares e amigos

 O apoio dos nossos familiares e amigos é extremamente importante num processo de aceitação pós diagnóstico. Aliás, é importante em tudo não é?

Aquando do diagnóstico, tiram-nos o tapete, os sonhos e achamos nós que a nossa vida termina ali. É pouco a pouco, passinho a passinho que nos levantamos. O apoio que temos à nossa volta é a muleta que precisamos para encarar a realidade. E acreditem, não é nada fácil!
Eu, felizmente, tive muita sorte. Quer no marido, nos pais, no irmão, na restante família e nos amigos.
Alguns que pensava que seriam amigos, deixaram de o ser. Outros que não esperava nada, deram-me tudo. São nestas circunstâncias que vemos quem vale a pena estar e ficar.

Nós nem sempre estamos bem e nem sempre queremos mostrar que estamos bem. Às vezes naquele dia mau, que as dores superam os nossos sorrisos, que o cansaço acaba com a paciência é sempre bom ter alguém que nos compreenda e que nos levante. 
Ter alguém que é companheiro e que nos encoraja, que nos enche de positivismo é a maior bênção que podemos ter.

Hoje estava a falar com o meu marido e percebi que sou uma sortuda de ter pessoas preocupadas e atentas aos meus passos. São simples mensagens destas que nos dão força.

Familiares de alguém que seja doente, se estiverem a ler este texto, reparem,  basta uma palavra de incentivo para mudar o nosso dia!!
Se não compreenderem os sintomas da nossa doença, respeitem por favor! 

sexta-feira, 7 de maio de 2021

Carta para familiares e amigos de doentes crónicos!

 Família e amigos,

Nem sempre é fácil eu esconder o que sinto. Para que saibam as dores fazem parte do meu dia a dia. Quando digo que dói,  acreditem, dói muito... Quando digo que estou cansada, acreditem, é muito difícil viver com esta fadiga e este cansaço que toma conta de mim...

Por vezes deixo de fazer coisas convosco. Mas não é falta de vontade, é mesmo porque estou condicionada e sei que em certas alturas também vos vou condicionar...

As alterações de humor??? Ui... são imensas. Então as alterações hormonais nem se fala. A má disposição por vezes é muita. O corpo também sofre com tantos comprimidos. Estes também trazem complicações.

Nem sempre a auto estima está lá em cima. Não reparem quando estou abatida. Não reparem quando digo que me quero deitar. Não reparem quando quero estar sozinha!

Por favor, não apontem o dedo. Tentem respeitar e compreender! Se não compreenderem, respeitem!
Ser doente crónica é bastante custoso e até aprender a viver com isso vou passar por muitas etapas. Espero que estejam sempre comigo porque vocês são a minha tábua de salvação!

Da vossa,
Lúpica!


terça-feira, 20 de abril de 2021

Mais amor próprio por favor!

 Certamente que já ouviram que o Lúpus é uma doença invisível. É verdade. Na brincadeira, costumo dizer que isto é só aparência. Por dentro estou podre 😁😁😃 Talvez nem sempre seja tão invisível assim e seja confundida por outras coisas. No "estás inchada", "tens a pele vermelha", "tens tantas estrias", "engordaste tanto", "tens que usar meias", "meu Deus, que pernas que tu tens" esta doença está bem explícita. No entanto, é transformada em expressões gordofóbicas que, é preciso estar muito bem resolvida para as ignorar e sorrir...

 Ainda hoje falava com uma seguidora fiel desta página que nas suas palavras mostrava-me o quão triste estava pelo excesso de peso. Esse excesso limitava-a de ter uma vida normal. Fugia dos olhares das pessoas. Para ela este confinamento era óptimo visto que vivia no seu mundinho fechada em casa. Pergunto agora, quantas pessoas sentem-se assim? Doentes ou não, o excesso de peso é algo muito sério que não é tolerável pela sociedade. Fiquei todo o dia a pensar naquela conversa. Ela dizia que eu era a sua companhia e que era eu que lhe dava força diariamente com as minhas publicações. Não somos todos iguais e nem reagimos aos problemas com a mesma força. 

Mas está mais que na hora de consumirmos conteúdo real e autêntico e acabarmos de vez com preconceitos estúpidos e cruéis que atiram as pessoas para estados depressivos e de sofrimento. Mais amor pelo outro por favor. E mais do que nunca, mais amor próprio. Esse é o maior amor que temos que ter. Seja com kilos a mais ou a menos esse não pode faltar. 



terça-feira, 23 de março de 2021

5 anos depois da trombose!

 A foto não é a mais bonita, mas é a minha realidade. Uma realidade nua e crua sem um bocadinho de magia do mundo cor de rosa. Há 5 anos a minha vida entrou numa montanha russa de emoções que transformaram os meus pensamentos, as minhas atitudes e a minha personalidade. 

Este novo "eu" teve que aprender a viver. Morri e renasci. E como um bebé que aprende a andar e a falar, também eu aprendi a conviver com os fantasmas e medos de tudo que trás uma doença crónica. A palavra crónica é pesada. Para sempre é muito tempo. Como imaginar uma dor que é momentânea virar uma dor para sempre? Como suportar essa ferida? Como aprender que certas coisas podem piorar? Fui invadida por questões que algumas, hoje, ainda não tenho resposta. Outras o tempo fez me perceber com mais clareza que tudo acontece por um motivo. Nunca me perguntei: "porque eu?"! As lágrimas demonstraram a minha revolta, a minha fraqueza, a minha tristeza, tal como também mostraram a minha aceitação e a minha superação.

 5 anos depois da trombose venosa profunda que me atirou para um hospital, totalmente debilitada e cheia de limitações, que me afastou da minha filha que tinha 3 meses e tanto precisava de mim, olhei para a minha perna. E chorei muito... Nestas marcas, neste edema, nesta pele roxa e avermelhada está muito do meu sofrimento e dor. Não só físico. A dor que tenho vai muito mais além que uma limitação física. Todos os dias me dói. E cada vez que sinto a dor física lembro- da dor da alma que passei naqueles momentos de há 5 anos, que para mim, foi ontem. O meu corpo, está todo ele marcado. Marcas estas, de uma viagem cheia de feridas. Não vão sair. Vou ter que conviver com elas e aprender que este caminho, apesar de o tentar esconder com as roupas mais bonitas que possa encontrar, é um caminho sombrio, cheio de obstáculos. Por detrás da roupa ou de um sorriso, "existe uma história que nem de longe os olhos de quem vê são capazes de desvendar".


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Como foi perceber que nunca mais voltavas a ser como antes?

 " Como foi perceber que nunca mais voltavas a ser como antes?"


Esta foi e é das perguntas que eu mais recebo. Só quem passa pelo mesmo é que nos entende. Às vezes sinto-me que não falo a mesma língua... por muito que respeitem, entender não entendem... 

Ainda ontem falava com uma amiga virtual (que eu espero que passe disso) que temos uma coisa em comum: um antes e um depois. Aliás  acho que todas que atravessamos este caminho sentimos isso.

Temos saudades de ser como éramos, mesmo sabendo que a doença  nos transformou. Não é só o físico que altera, a nossa cabeça sofre uma reviravolta muito grande. 
A vida muda, a rotina muda, o corpo muda, e nós mudamos. Perceber essa mudança é difícil. Aceitá-la ainda mais difícil é! A aceitação é o caminho mais controverso que passamos. A revolta por vezes é enorme.
Existem dias de tudo!

Comigo a pior parte de aceitar foi o aspeto físico. O corpo mudou, ficou cheio de marcas, os quilos não se foram embora na totalidade, o rosto alterou, o cabelo também... olhar para um espelho e ter auto estima da forma como o nosso corpo está é o maior engolir em seco que nós temos. O pensar que vou tomar remédios (como diz a minha filha) para sempre também é complicado. O saber que o medo estará presente para sempre é o maior tormento da nossa vida.

No entanto, o perceber que nada será como antes também não é mau. Estas doenças deram-me uma força que eu desconhecia que tinha, deu-me vida, deu-me segurança. Como hoje dizia a Sofia Ribeiro no Goucha, esta partilha com pessoas que passam pelo mesmo, ajuda-nos a sentir melhor porque afinal falamos a mesma língua. E foi este blogue que me ajudou imenso a aceitar e ajudar outras pessoas que estão a passar pelo mesmo.

No fundo, todas estas vivências trouxeram-me luz. Não foram só coisas más! Talvez eu me tenha descoberto e percebido qual o sentido da minha vida: através da minha experiência ajudar muitas outras pessoas. E isso é o melhor que se pode tirar deste sofrimento todo!


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Ser filha de pai emigrante!

 Ser emigrante é difícil. Mas ser filha de pai emigrante também o é. E ainda mais quando é pequenina! Está a crescer a ver o pai a partir, por vezes não entende mas já se mostra muito "adulta" no que toca a despedidas. 

 O pai disse que ela não podia ficar triste porque logo logo estava de volta. Ela respondeu: "posso ficar um bocadinho triste? Posso chorar um bocadinho?" 

 Ontem não o levou ao aeroporto. Ela estava com muita vontade de ir para a escola e preferimos que ela não fosse para não "sofrer tanto". 

 Ao final do dia estava chatinha, a fazer birra e sempre a chamar a atenção. Tirei um tempo para irmos dar um pequeno passeio e então ela confessa: - Mãe estou um bocadinho triste porque o pai foi para a Suíça. Eu estava a fazer birras porque eu queria o meu pai aqui.

 Não resisti, e chorei... 

 "Mãe, não podes chorar. O pai disse que só podemos ficar tristes um bocadinho."

 Enchi-a de beijos e ela logo muito de repente diz: - o pai não aceitou o meu dinheiro do meu mealheiro para ficar aqui e não ir mais para a Suíça. Por isso, agora vamos ao burguer King porque tu prometeste. Vamos gastar o dinheiro que o pai manda da Suíça 😄😄😄 


 Soltei uma grande gargalhada porque afinal o pai manda só ficar triste um bocadinho!!😁😍