" Como foi perceber que nunca mais voltavas a ser como antes?"
Esta foi e é das perguntas que eu mais recebo. Só quem passa pelo mesmo é que nos entende. Às vezes sinto-me que não falo a mesma língua... por muito que respeitem, entender não entendem...
Ainda ontem falava com uma amiga virtual (que eu espero que passe disso) que temos uma coisa em comum: um antes e um depois. Aliás acho que todas que atravessamos este caminho sentimos isso.
Temos saudades de ser como éramos, mesmo sabendo que a doença nos transformou. Não é só o físico que altera, a nossa cabeça sofre uma reviravolta muito grande.
A vida muda, a rotina muda, o corpo muda, e nós mudamos. Perceber essa mudança é difícil. Aceitá-la ainda mais difícil é! A aceitação é o caminho mais controverso que passamos. A revolta por vezes é enorme.
Existem dias de tudo!
Comigo a pior parte de aceitar foi o aspeto físico. O corpo mudou, ficou cheio de marcas, os quilos não se foram embora na totalidade, o rosto alterou, o cabelo também... olhar para um espelho e ter auto estima da forma como o nosso corpo está é o maior engolir em seco que nós temos. O pensar que vou tomar remédios (como diz a minha filha) para sempre também é complicado. O saber que o medo estará presente para sempre é o maior tormento da nossa vida.
No entanto, o perceber que nada será como antes também não é mau. Estas doenças deram-me uma força que eu desconhecia que tinha, deu-me vida, deu-me segurança. Como hoje dizia a Sofia Ribeiro no Goucha, esta partilha com pessoas que passam pelo mesmo, ajuda-nos a sentir melhor porque afinal falamos a mesma língua. E foi este blogue que me ajudou imenso a aceitar e ajudar outras pessoas que estão a passar pelo mesmo.
No fundo, todas estas vivências trouxeram-me luz. Não foram só coisas más! Talvez eu me tenha descoberto e percebido qual o sentido da minha vida: através da minha experiência ajudar muitas outras pessoas. E isso é o melhor que se pode tirar deste sofrimento todo!
Sem comentários:
Enviar um comentário